quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Parte 2 do capítulo 1 ES

A Escola da Solidão, como indicava uma placa de metal antes de um vasto gramado bem aparado e escadarias em ascendência, havia sido planejada por uma união de educadores mestres e arquitetos e engenheiros. O que significava que era uma perfeição sem limites. Tratava-se de um edifício central sem forma regular com conexões externas e internas com prédios menores. Vidro e natureza indicavam uma utopia ambiental que ainda não existia fora daquele território. A Escola da Solidão tinha conexão com a Biblioteca Nacional através de uma passagem aérea justo no local onde funcionava a imprensa d’O Solitário Semanal. Chamava a atenção aos passantes uma construção em formato de trapézio totalmente em cimento, onde funcionava o teatro escolar e municipal. Entre escadarias e passeios de pedrinhas acastanhadas, vários bancos de pedra e fontes ornamentais davam o ar da graça. Num quiosque próximo à entrada central funcionava uma cafeteria charmosa. Foi para lá que Lana e Evan se dirigiram.
_ Será que Judy vai estar no café? – Lana indagou.
_ Lana! – Evan riu – Ela sempre está no café.
_ “Como querem que eu durma a noite com tanta responsabilidade?” – imitaram os dois em uníssono.
_ A única maneira de se manter acordada é com cafeína! – continuou o Evan.
_ Hey! – um garoto de cabelos cacheados e loiros se aproximou dos dois – Estão indo para o café?
_ Sim. – Lana respondeu – Bom dia, Mariadoc!
Mariadoc não era reconhecido apenas por seus cabelos cacheados e perfeitos, muito menos por seu ar angelical. Nem tão pouco pela riqueza material do pai, dono de uma importante indústria de perfumes. Sua fama era de sua coragem em ser o que era e não esconder. Todos gostavam de Mariadoc, o homossexual rico e assumido, aspirante a (e Evan se lembrava de alguém ter sufocado o riso um dia) político.
_ Hoje há uma convocação no auditório da escola. – informou o Mariadoc – Parece que o reitor Foster tem um comunicado importante.
_ O que será? – quis saber a Lana.
_ Judy não nos falou nada. – disse Evan.
_ Acho que ela nem sabia. – caçoou o Mariadoc – Digo, às vezes ela nem parece filha do reitor! – Mariadoc riu alto.
_ Ou o pai é que não quer que ela seja tão especial por causa disso.
As palavras de Evan soaram um pouco duras e o clima entre os três ficou um tanto quanto pesado, como quando existe um choque de opiniões. Só voltaram a abrir a boca quando atingiram o café abarrotado de estudantes cafetólotras. Avistaram a Judy a tomar seu espresso calmamente e a ler uma revista de moda.
_ Moda? – Lana pareceu surpresa.
_ O que é que tem? – Judy pareceu distante – Eu também sou uma garota.
_ Alguém disse que não és? – quis saber o Evan a olhar as modelos por cima dos ombros de Judy – Uau! Esta aqui deve passar por uma fechadura de tão magra!
_ Eu pensei que eras uma máquina. – Insistiu a Lana.
_ Uma máquina que gosta de ser uma garota.
Os quatro riram, Mariadoc cumprimentou a Judy com três beijos na face. Evan até entendia a surpresa da Lana. Judy usava os mesmos óculos de aro vermelho vivo desde que a conhecia no oitavo ano. Além disso, usava sempre o mesmo estilo de roupa quando não estava de uniforme. E ela sempre estava de uniforme.
Mariadoc foi cumprimentar uns garotos com aperto de mão sério.
_ Eu ainda não engoli essa história de que ele é gay. – disse a Lana.
_ Para mim ele parece apenas sensível demais. – concordou a Judy – Mas, claro que ele fica estranhíssimo quando bebe. Na última festa estava mais feminino do que eu!
Os três riram de novo. Judy sacudiu os cabelos ondulados e castanhos ao virar o rosto e cobri-lo com a revista.
_ O que foi? – Lana espiou por cima dela para o outro lado do balcão.
_ Alastor... – concluiu Evan. Ele sabia que o vice-presidente da imprensa implicava com Judy sempre que tinha oportunidade.
_ Não quero que me veja. – pediu Judy se levantando – Vamos indo ao caixa...
_ Não entendo como a presidente e o vice-presidente dum mesmo jornal podem se odiar tanto. – confessou Lana enquanto Judy pagava o espresso duplo.
_ Ódio? – Alastor estava mesmo ao lado dos três.
Mariadoc se juntou ao grupo para pagar algo.
_ Ódio? – ele indagou.
Judy fitou o rosto moreno e sério de Alastor. O nariz aquilino dele levemente levantado e os olhos negros e cerrados fixos nos dela.
“Oh, céus, como ele é charmoso”, pensou a garota.
_ Ódio? – repetiu Lana a rir.
_ Na verdade foi bom encontrá-la aqui, Judy. – disse Alastor no seu habitual tom sério.
_ Mesmo? – Judy e Lana perguntaram ao mesmo tempo.
_ Sim. – respondeu ele a sacudir os ombros – Quero muito convidá-la a ser minha acompanhante no aniversário do Louis...
_ Eu... – Judy não sabia o que dizer. - Você disse que quer muito?
_ Achei que seria de bom tom se a presidente acompanhasse o vice-presidente. – explicou Alastor.
_ Ah! Claro... – concordou Judy desapontada – Está bem...
Naquele exato momento os alto-falantes da escola deram o sinal para que todos do colegial fossem ao auditório da escola. Como para salvar a todos do silêncio que se fez pelo convite de Alastor, uma massa de estudantes e professores entrou na fila para pagar a consumação.
Lana puxou Judy e Evan na direção da saída do café. Mariadoc vinha logo atrás. Lana riu.
_ Do que estás a rir? – perguntou a Judy irritada.
_ Oras! – Lana olhou para os dois rapazes ao redor – É claro que o Alastor não te convidou apenas por causa da boa impressão que isso pode causar.
_ Eu sei... – anuiu Judy – As pessoas não ligam se a presidente e o vice se dão bem ou não. Meu pai mesmo diz isso a todo instante para mim. As pessoas ligam se o jornal dá certo pela parceria.
_ Oh my! – Mariadoc suspirou alto a olhar para as costas conhecidas de um rapaz de cabelos escuros que se misturava num grupo no saguão de entrada – Desculpem garotas – e a olhar para o Evan – E garoto. Mas o Louis não tem uma bunda qualquer!
Lana e Judy riram alto. Evan ficou pensativo. Olhou para o Mariadoc embaraçado... Este deu uns tapinhas no ombro dele:
_ Eu sei, Evan. Não é a sua praia. Mas... – e apontou para os traseiros saltitantes das líderes de torcida mais para a esquerda – Aquelas são bundas bonitas também.
_ Vamos parar de falar de bundas? – pediu Lana a rir-se – Que coisa louca.
Entraram num auditório de assentos verde-musgo que estava praticamente lotado. Os assentos desciam até o nível de um palco de tamanho médio onde apresentações e discursos eram feitos. No palco já estava o reitor William e alguns professores enfileirados respeitosamente. O instrutor de Yoga estava mais ao canto esquerdo. Chamava-se Bruno e ouvia atentamente as palavras da instrutora de Educação Física, Diana Hoo. Muitos diziam que eles andavam juntos, outros preferiam acreditar que eles apenas tinham interesses em comum. E a isso somava-se o interesse por alunos do sexo masculino. Quem partilhava da segunda opinião também era a professora Maria Flor, de Geografia, que pigarreara naquele momento com o amplificador de voz ligado. O professor de língua estrangeira sorria abertamente e acenava, era o mais jovem e seus cachos castanhos seduziam grande parte das menininhas. Ao lado dele o professor Ariel assustava a professora grávida de artes com piadas de cálculos matemáticos astutos. Isolete, a professora de língua matriarca, lixava as unhas como quem não queria nada e acenava com a cabeça indicando que ouvia as palavras sossegadas do professor de História e sua famosa barba por fazer.
Um grande telão parecia estar pronto para ser usado e brilhava atrás dos professores.
Lana, Mariadoc, Judy e Evan sentaram-se na terceira fileira lá da frente, bem próximos ao reitor; que acenou para Judy em reconhecimento.
_ O reitor parece animado... – comentou o Evan.
Lana ia responder, mas o reitor limpou a garganta no microfone em frente a um tripé repleto de folhas.
_ Meus alunos! – ele iniciou – Convoco a vossa presença para anunciar algo de extrema importância... Que nossa escola tem uma excelente cadeira de Drama, isso não é novidade! Por cinco anos já tivemos o prêmio de melhor ator teen de Pico. Também tivemos o reconhecimento do trabalho da professora Aline Delvechio pela folha Nacional. É por isso que a nossa professora de Drama, a Srta. Aline Delvechio, pode tomar a palavra a partir daqui...
Evan se inclinou para frente com o intento de olhar os colegas ao lado. Um rapaz de pele clara e cabelo negro lhe acenou, era Louis Partridge. Uma cicatriz reta na bochecha esquerda lhe empregava um charme impressivo. Louis era alto e magro, tinha uma voz suave para um rapaz da idade dele, maçã de adão proeminente e fazia parte da equipe de pólo aquático da escola juntamente com Evan. Evan devolveu o aceno e encostou-se à cadeira novamente, desta vez com um ligeiro sorriso no rosto.
_ O que foi? – perguntou Lana – Algo de que eu possa rir também?
_ Não é nada não... – respondeu ele – É só... Deixa pra lá.
Lana arqueou a sobrancelha e se inclinou para frente, na tentativa de entender o que se passava. Ao lado dela estava Judy, seguida de Mariadoc, e Trinity Morgan. Depois Alan, ao lado de Kevin, depois Jorge, Flora, Louis... Não havia nada de mais. A não ser que... Ah, todos sabiam que Evan tinha um fraquinho por Trinity Morgan... Eles até já tinham se beijado escondidos. E por terem se beijado escondidos, todo mundo sabia!
Lana lançou um olhar ao Evan como a dizer que sabia o motivo daquela súbita alegria e encostou-se no assento para prestar atenção. O telão mostrava fotos de peças teatrais abertas ao público no último festival anual de série dramática.
_ Então, como todos os alunos do ensino médio já têm três ou mais anos de Drama... – dizia a professora Aline Delvechio na sua habitual voz imprecisa, as lantejoulas e pedras coloridas do vestido dela brilhavam ainda mais na plataforma – É com grande honra que nossa escola foi convidada para concorrer no “Décimo Quarto Anual de Série Dramática”!
O reitor Willian se mostrou satisfeito com a reação dos alunos. Eles aplaudiram, sorriram e ficaram satisfeitos. Mas não tão satisfeitos como a Srta. Delvechio, que quase dava saltos de alegria. E a satisfação teve o obséquio de ser redundante.

_ Prova de Inglês... – resmungou Trinity ao ouvido de Evan – Você nem me cumprimentou hoje...
Eles iam para a sala de inglês, num corredor abarrotado de gente vestida de verde. Muitas conversas chegavam aos ouvidos dos dois, todas atrapalhadas e em níveis pouco usuais e práticos.
_ Na verdade eu não a vi... – disse Evan se desculpando da colega – Eu...
_ Mentiroso... – ela retrucou maliciosamente – Eu o vi olhando para mim...
Ela soltou uma gargalhada estridente. Prosseguiu o caminho para a sala com passos mais rápidos e sacudindo bastante a saia curta. Trinity fazia parte do grupo de torcida da escola, por isso andava sempre com a saia verde pra lá e pra cá.
_ O que foi aquilo? – quis saber Judy se colocando ao lado de Evan – Ela quase te engoliu com aquele olhar...
_ Evan tem um azar muito grande para relações... – retrucou Lana – Veja com quem se meteu. Com a megera da Trinity Morgan!
Evan não disse coisa alguma. Eles entraram na sala de aula do Professor Leandro, o professor novato de inglês.
_ Bom dia, classe! – disse ele aos alunos – Por favor, acomodem-se. Evan, Lana, Judy; Por favor... Nós temos um teste escrito hoje. Fechem seus livros. Quero apenas caneta, lápis e borracha em cima das mesas.
O professor entregou as provas aos alunos, que começaram a rabiscá-la imediatamente. Evan terminou-a em menos de dez minutos e ficou sem o que fazer.
A atmosfera era de silêncio completo, exceto por alguns murmúrios audíveis e repreensões por parte do professor Leandro.
Evan sentiu um cutucão nas costas, esperou o professor passar pela sua fileira e olhou para trás. Era Louis, que lhe entregou uma borracha. Na borracha estava escrito “qual 2”. Evan escreveu no verso “2-b” e devolveu a borracha, em troca recebeu o mesmo sorriso cômico do amigo.
Quando a última pessoa entregou a prova ao professor, os alunos foram liberados mais cedo. Na precipitação pela única porta da sala de aula. Evan sentiu um puxão no ombro, era Louis. A sala ficou quase vazia, com exceção do professor. Ele parou ao passar pelos dois garotos:
_ I loocked your test, Evan... – disse ele – It’s great!
_ Thanks. – agradeceu Evan – I´m really surprise!
Quando o professor se afastou da sala, Louis decidiu falar.
_ Obrigado por ter me dado aquelas respostas. – agradeceu se referindo às diversas e criativas formas de resposta – Eu não tive chance de estudar...
_ Problemas? – quis saber Evan interessado e apontando a saída, os dois andaram juntos pelo corredor – Você não precisa me contar... – comentou Evan insatisfeito com o silêncio do amigo – Se você não quiser. – completou.
¬_ Vem comigo a um lugar? – Louis perguntou repentino.
Evan não teve tempo de respirar e já era arrastado quase a correr escadas abaixo. Estava habituado com esses lapsos de atitude do amigo, por isso não se espantou quando viraram para o lado do corredor que dava para a biblioteca e não para o lado que dava para o intervalo. Atravessaram o corredor suspenso de mãos dadas e Louis parou para observar os colegas jogando fresco-ball no gramado. Evan sentia a mão suando, mas não reclamou. Gostava da proximidade. Continuaram o caminho de mãos dadas e entraram no que era a famosa Biblioteca Municipal.
Cinco andares de estantes de livros ao redor de um salão principal com quatro lustres pesados a pender do alto teto. Lá embaixo a comunidade estudava nas mesas paralelas de abajures cromados. Mas, Louis arrastou Evan para fora da biblioteca por uma escada lateral.
Só soltaram as mãos ao entrar pelas cortinas de tecidos leves e coloridos ao vento da sala de Yoga. Bruno havia deixado incensos queimando e a atmosfera da barraca de Yoga, como alguns preferiam chamar, era de serenidade. Ouvia-se o barulho de água a ser jorrada no espelho d’água. Louis sentou em uma das almofadas cor de laranja e ficou a brincar com a água de uma bacia de bronze.
_ Onde achou que eu estava te levando? – quis saber o curioso.
_ Talvez ao sótão da biblioteca.
Evan se sentou ao lado do amigo na mesma almofada. Este deixou o corpo deitar-se, a cabeça no colo de Evan.
_ Você quer falar. – disse o Evan.
O outro apenas acenou afirmativamente.
_ O professor Bruno pode não gostar de nos ver aqui.
_ Não tenho medo.
_ Humm... – Evan apenas fez um murmúrio com a boca.
_ Escreveu algo legal desta vez?
_ Dismorfia corporal... – Evan deu de ombros – Bulling...
_ Temos um caso de Bulling na escola. – Louis pareceu tenso – Odeio quando vejo esse tratamento débil com os oprimidos.
_ Eu também não gosto.
Evan teve vontade de dizer ao amigo que era apaixonado pela bondade dele. Mas a insegurança deixou as palavras no pensamento.
_ Sabe, essa fumaça toda do Bruno sempre me deixa num estado de estase. – confessou o Louis.
_ Não sabia que você fazia Yoga.
_ Senti ciúmes na tua voz. – Louis ficou confuso – Eu não faço Yoga. Mas, o Bruno é ótimo pra conversar.
Evan não conteve o impulso e tocou os cabelos macios do amigo.
_ A nossa amizade é bonita.
Evan concordava com aquilo.
_ Mas, as pessoas não entenderiam... Pelo menos é o que diz o professor Bruno.
_ Você contou ao Bruno que passamos horas assim?
Louis deu de ombros e sorriu. Olhos castanhos fundiram tal qual ouro queimando, apaziguando o Evan.
_ Evan... – Louis parecia preguiçoso – Descobri algo. Papai descobriu algo.
_ O que exatamente?
_ É a minha mãe.
Evan, que não entendia o que poderia ser descoberto sobre Ilse Partridge, a magnata da sociedade das damas beneficentes de Pico, continuou a enrolar os cabelos do amigo.
_ O que tem a sua mãe, amigo? – Evan soara descontraído. Observava a face endurecida de Louis.
_ Antes de conhecer o papai, antes de ir para o convento... Ela era uma prostituta.
Louis ergueu um corpo envergonhado e ficou de costas para o amigo. Talvez temesse ver a cara de espanto no outro. Evan tocou as costas do Louis, pressionando no ponto certo.
_ E você acha isso importante? Pra mim soa meio bíblico... Madalena perdoada pela sociedade.
_ É belo, sem dúvida. – retrucou o Louis ironicamente – Não fosse que nossa sociedade é um bocado selvagem e não a perdoaria. E não fosse por outra descoberta.
_ E qual seria?
Desta vez Louis voltou a própria face em direção aos olhos acinzentados do amigo.
_ Eu não sou filho do senhor Partridge. Por isso ele me odeia tanto. Por isso ele jamais se interessou realmente em mim.
Para Evan aquela era uma explicação razoável para todo o sofrimento do amigo. Teve vontade de retrucar, de dizer que não era aquilo, que ele devia estar enganado. No entanto, era uma explicação bastante aceitável.
_ Lamento. – foi tudo o que Evan conseguiu pronunciar.
_ Sabe o que é carregar um nome que não significa nada? Sabe o que é descobrir que você não sabe nada das suas origens?
_ Não diga essas coisas. – Evan se assustou com a ferocidade das palavras do outro – Você é mais Partridge do que qualquer um que poderia ser realmente filho do Arthur Partridge! Ele educou você, e ofereceu amor suficiente para que você crescesse...
_ Mas assim que ele descobriu a verdade, deixou de me amar. – retrucou o Louis – Eu garanto que foi aí que ele começou a me odiar... De certo ele conhece o pescador de quem sou filho e reconhece agora semelhanças entre eu e meu pai biológico.
_ Lamento ouvir isso.
Era mais uma lamentação, mas pareceu suficiente ao Louis, porque abraçaram-se por longos minutos. Louis agarrou as costelas de Evan com mais força e juntou mais o corpo para perto do amigo. Então Evan sentiu lábios roçarem a região próxima da orelha esquerda e depois nada.
Louis simplesmente levantou e se afastou. Olhava reto para a direção das costas de Evan. Este virou o pescoço em busca de uma resposta para aquele comportamento esquisofrênico.
_ A aula vai começar em poucos momentos. – a voz suave do instrutor de yoga pareceu retumbar no seu templo almofadado e coberto por voiles – Senhor Schneider, senhor Partridge... Receio que a piscina seja o melhor local para este tipo de encontro.
Evan fitou o instrutor com um bocado de raiva. Como assim “este tipo de encontro”? Abriu a boca para argumentar que ele e Louis só estavam conversando, mas o professor prosseguiu, desta vez olhando apenas para Louis:
_ Depois quero falar com você.
Louis acenou a sorrir e saiu. Deixou Evan sozinho com o professor.
_ Você não tem o direito.
Evan fitou um rosto nada amigável que se aproximava do seu, sentando-se na almofada.
_ Como? – Evan realmente não entendera.
_ Louis está passando por uma fase bastante difícil, Evan... – o professor adotou um tom profissional um pouco mais amistoso do que o anterior, até tentou um meio sorriso, forçado demais na opinião de Evan – Peço apenas que você tente apazigua-lo, e não que transforme esta dificuldade em dúvida também.
_ Somos amigos.
_ Eu sei. – o professor deu um tapinha no ombro do aluno – Vocês são amigos, e se amam.
_ Eu...
_ Não diria a palavra amor? – o professor passou a soar irônico – O pessoal do pólo aquático não chama a amizade assim de amor?
_ Voce fala de maneira estranha. – Evan ficou confuso – É jovem o bastante para não ser chamado de senhor, desculpe... É estranho estar tendo esta conversa.
_ Para mim também. – o instrutor de yoga simplesmente se levantou e foi até a sua mesa de estudos.
Iniciou a análise de alguns rolos de pergaminho, coisa que Evan duvidava que existisse até aquele exato momento. Isso foi o bastante para o aluno entender que a conversa estava encerrada e ele percebeu que fora ele mesmo quem encerrara o assunto.


_ Uma pena! Deviam ter continuado o papo!
Lana incitava Judy. Ambas estavam em uma das muitas mesinhas de concreto redondas que enchiam uma cantina coberta e dividiam uma porção de batatas fritas cheia de condimento.
Evan se juntou a elas e apanhou uma conversa a meio.
_ Não acho que devia... – retrucou a Judy a brincar com uma das batatas.
Lana aproveitou que Evan estava ali para ganhar pontos naquela decisão.
_ Judy conversou com o Alastor sobre a festa. – explicou ao amigo – Mas, ele desviou a conversa. Eu acho que Judy deveria ter retomado o assunto...
_ Pois eu não acho. – retrucou a filha do reitor cheirando a batata e exprimindo desagrado.
_ Diga a verdade, Judy... – e Lana se aproximou da amiga – Você definitivamente sente algo por ele. Você definitivamente gosta dele. Admita.
_ Só tenho uma coisa a admitir. – respondeu a Judy desistindo de vez de comer aquela batata – Odeio batata frita.
Lana sorriu de orelha a orelha.
_ Eu sabia! – exclamou exultante – Mudar de assunto significa talvez e talvez sempre é sim.
_ Oh, cale-se! – pediu a Judy – Não seja boba, Lana. Onde ouviu este disparate de lógica?
Lana deu de ombros.
_ Você vai se inscrever, Evan? – Trinity surgiu se sentando ao lado dele e lançando um olhar inquisitivo.
_ Me inscrever para que? – quis saber ele.
_ Não digam que vocês não sabem? – ela ridicularizou – Vocês, do jornal, não sabem!
Os poucos alunos à volta olharam a cena com rostos curiosos. Lana estava prestes a cuspir a batata que estava comendo. Odiava Trinity Morgan e não escondia o ódio. Aliás, a líder de torcida era odiada por muitas garotas e não se deixava abalar por tão pouco.
_ Desembucha, Trinity. – disse Lana.
Judy ficou apreensiva.
_ É a festa de Inverno, daqui a dois meses! – gritou ela se levantando e dançando – Vai se chamar “Neve no Inverno Frio dos Abóboras”! E... Vai haver a eleição do garoto e garota Escola da Solidão!
_ Meu Deus. – gemeu Lana incrédula – Tudo isso pra isto? Uma festa?
_ Gostei do nome! – exclamou Judy imaginando as letras no jornal da escola – Quem está organizando?
_ O grêmio. – respondeu Trinity – Mas era pra ser segredo... – Ela olhou para Evan de uma forma maliciosa – Algumas pessoas têm muitos segredos...
Ela saiu de perto dos três e foi se sentar na terceira mesa a contar da deles, estava na companhia das outras garotas da torcida.
_ O que ela quis dizer com isto? – indagou Judy, finalmente engolindo a batata que estava na sua boca – Segredos?
_ Eu não sei... – respondeu a Lana de mau humor – Mas ela acabou com o segredo da festa gritando desta maneira em plena cantina.
Os três riram.
_ É melhor você ficar atento, Evan. – sugeriu a Lana. – Não gostei do tom dela.
Evan fixou o olhar na mesa ao lado. Sentada na mesa, uma única pessoa, uma garota, debruçada, e chorando.
Judy seguiu o olhar de Evan.
_ Camila... – explicou Judy – A diretoria da imprensa decidiu que ela precisa de uma matéria nova o mais rápido possível. Depois da matéria que ela escreveu sobre Tomates Verdes Fritos na escola ela ficou em maus lençóis. Precisa de uma matéria nova e interessante para continuar com a coluna. Se não... Ela vai ser afastada.
_ Sim... – concordou a Lana – Ouvi dizer que ela ficou até agora chorando no espelho d’água.. Coitada, está no jornal desde o ano passado... E participou da revista do ensino fundamental.
_ Espelho d’água? – indagou Evan em pânico – O espelho d’água que se estende até a barraca de Yoga?
_ Sim... – Lana respondeu a dar de ombros – É um local vazio. Eu mesma já andei por lá...
Judy sufocou uma risadinha.
_ Com alguém, suponho.
_ Sim, com alguém, Judy! – respondeu a Lana e, vendo que Evan se levantara – Onde foi o Evan?
Evan se afastou das amigas sem dizer mais nada, precisava encontrar Louis e contar-lhe que era muito provável que Camila tivesse ouvido a conversa. Mas ele parou, Camila não estaria chorando se tivesse nas mãos uma matéria tão destrutiva e interessante como aquele escândalo. Ela estaria salva, estaria radiante... Evan sorriu, estava paranóico naquela manhã.

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