quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Tea & tears

Tea & tears
A garota sentiu um arrepio na coluna cervical que fez com que o corpo inteiro tremesse. A respiração ofegou ao ter a própria mão tocada pelas mãos dele. Ela o amava.
- É querida, caiu nas redes do cupido... – e ria desenfreada. Porque o amor fazia rir mesmo. E muitas vezes fazia chorar, mas não no estagio inicial. Não, primeiro tudo são mares e rosas.
No entanto, o rapaz não demonstrava afeto maior por ela do que demonstrava para com as ovelhas do rebanho. Se a garota o quisesse realmente para si – e ela nem ao menos sabia para que ele serviria quando o tivesse – teria de fazer algo.
Foi numa tarde nebulosa, quando a pensar na maneira pela qual ganharia a atenção e o amor do rapaz, que a garota encontrou encontrou a solução. Se bem que ela nem imaginava ser aquilo a solução.
Estava no meio do pasto a observar a maneira como o rapaz tocava as ovelhas, quando avistou uns ramos diferentes a brotar do chão. Lembrou-se de que vira alguns animais comerem aquilo e passarem bem. Lembrou-se ainda de historias de bruxas que faziam poções com aquele tipo de erva.
- Posso tentar fazer uma poção do amor.
E levou uns raminhos consigo para o interior da casa. Apanhou uma chaleira e deitou água para ferver. Os ramos tinham um cheiro maravilhoso. Colocou-os numa xícara e sentou-se a espera.
O medo invadiu sua alma. As pessoas costumavam apedrejar mulheres que usavam estas ervas. Havia historias de bruxas queimadas vivas. Mas fazer o que se ela estava apaixonada e os apaixonados nada vêem para alem do seu amor?
Colocou-se ao lado da chaleira no fogo, a espera de que a água fervesse logo. Eis que entrou na cozinha o rapaz que de tão cansado atirou-se logo para a cadeira.
- O que será isso que estas a fazer?
- Apenas uma bebida.
- Posso experimentar quando estiver pronta? Estou morrendo de sede.
A garota riu. Assim que a água ferveu, deitou-a para o copo e imediatamente a cozinha ficou perfumada com o cheiro adocicado das ervas. O rapaz bebeu sem hesitar. A garota apertou o tampo da mesa com mais força do que a necessária.
- E então? O que achou?
O rapaz bebeu mais uma vez, os olhos umedecidos por causa do vapor, e disse:
- Céus, é como beber as lágrimas de um anjo triste.
- Tea... Tea... Tears? – balbuciou a garota.
- Sim! O produto da tristeza dos anjos.
Pensando que o rapaz já sofria os efeitos da poção, a garota o abraçou e o beijou. Os anjos pararam de chorar para tocar os sinos.

E desde então o chá se chama chá e é por isso que Tea (chá) é tão parecido com Tears (lágrimas).
Selvage Me