domingo, 15 de maio de 2011

Acaso


Ele chegou na estação de trem naquela parte do dia em que o Sol deixa tudo alaranjado na sua despedida.
Maleta na mão, chapéu na outra, um bilhete segurado com o auxílio da boca, tentava encontrar o aparelho de celular na algibeira do sobretudo. Foi quando, atropelado por uma mulher que tirava fotografias do horizonte belo de vinhedos ao pôr-do-sol, deixou cair todos seus apetrechos.
- Desculpe.
Ambos se abaixaram e, na casualidade daquele momento vago em que os dois olhos se encaram, apaixonaram-se.
Levantaram segurando o mesmo aparelho de celular semi-desmontado.
- Aqui.. - ela entregou-lhe a câmera fotográfica e pegou o aparelho dele - Vou consertar pra você.
Montou o aparelho celular e fizeram as trocas.
- Você fotografa. - ele disse como que para puxar assunto.
- E você carrega um chapéu, uma maleta e um celular e mastiga bilhetes de trem.
Ele riu.
- Tirei uma foto sua. - ela continuou.
- Posso vê-la?
- Só no meu estúdio.
Ele analisou a questão. Encararam-se. Ambos sorriam.
Os trens chegaram ao mesmo tempo, iam em direção opostas.
Ele e ela também.
Olharam para os bilhetes na mão um do outro.
Por instantes nada disseram.
O auxiliar de bordo gritava para que os passageiros subissem nas locomotivas.
- Quer saber... - ele puxou-a para o banco vazio da plataforma - Vamos ficar um pouco aqui.
- E depois eu lhe mostro a fotografia.
- E depois eu lhe conto da minha paixão.