domingo, 20 de fevereiro de 2011

Acalento


Estava contrariada.
Sentia-se bem na casa dele, onde devia sentir-se no mínimo acanhada. E na sua própria casa, onde devia estar bem, Arwen sentia um desconforto imensurável.
Era pisar naquela casa antiga que todos os tremores excessivos em seu corpo se faziam presentes e todos os monstros na sua cabeça tomavam forma, bem como aquele irritante caroço que entalava em sua garganta.
A mãe que ela tanto amava, logo ao vê-la irromper na sala com sua mala de mão, já começou as indagações...
- Onde estava? O que escondes? Não consegues aceitar tua falta de sorte mesmo, não é? – entre outras tantas críticas e objeções mal-disfarçadas em cada pergunta .
Para a sentença derradeira:
- E por que você não fala comigo?
A Excessiva ficava parada, de mala na mão, sem saber como dizer o que sentia; que acima de tudo estava um pouco exausta da vida; mas que sentia-se fraca e mal-amada, presa e sozinha, por causa da falta de afeto da sua própria progenitora. Na verdade irira mais longe – tinha provas mais que suficientes para encarar um júri popular pronto para declarar sua mãe culpada por arruinar os sonhos dela de iniciar na arquitetura. E o pior! De insitar a própria filha a desistir do seu sonhos de ser, quiçá um dia, uma escritora conhecida!
Mas a Arwen não disse nada disso. Estar ali, de frente para a sua mãe, sentindo vergonha, já era difícil o bastante.
- Você nunca tem nada a dizer!
A mãe bebeu de uma só vez o copo de wyskie.
Excessivamente fraca e cheia de lágrimas, Arwen segurou firme a sua mala e saiu pela porta da qual acabara de entrar.
- Sua vagabunda! Vai dormir fora outra vez?
Aquelas palavras ecoaram na rua escura. Arwen correu. Enquanto avançava, o vento forte secava as suas lágrimas.
Exausta, chegou à casa dele. Como explicar a sensação de estar protegida? De estar amada, fortificada... Só de pisar naquela soleira, só de vê-lo abrir a porta.
Havia um sábio que, sem excessividades, murmurava:
“Lar é onde está o coração.”



L.J. Becker