quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O Conto do lago sem patos


Esta é a história de três coisas:
Um garoto com pernas rápidas;
Um lago de águas turvas;
E uma centena de patos de várias cores e tamanhos.
Naquela manhã em particular na pequena cidade do Leste as pessoas não se importaram com a velocidade das pernas do garoto. Ele corria pelas ruas da cidade, os tênis batendo periodicamente no asfalto. Corria em direção ao parque como fazia todos os dias, sem exceção.
O garoto engoliu uma lufada de ar e sorriu satisfeito. O que ele mais gostava ao correr era sentir o vento forte. O seu maior sonho era que um dia este vento o levasse dali.
Quando pequenino sua tia o fizera crer que ele tinha o poder de chamar o vento. Os dois subiam nas colinas e sopravam, chamando o todo poderoso vento. E ele vinha! Poderoso ao extremo. Um dia a tia não conseguiu conter o vento e ele a levou para longe. Foi neste mesmo dia que o garoto ficou temeroso de não voltar a vê-la e iniciou sua longa jornada em direção ao controle intenso do vento; em direção ao desejo de ser arrastado por ele também.
Por isso gostava de correr. E quanto mais veloz, mais perto do seu objetivo ele pensava estar. O problema era que o menino crescia muito rápido. E quando se cresce os sonhos vão perdendo forma. O garoto sabia naquele momento, por exemplo, que era tolice acreditar que conseguiria voar. Pelo menos metaforicamente ele voaria, com velocidade!
- Lá vai o menino que quer voar! – gritou uma garotinha da mercearia da esquina.
A avó dela apenas sorriu e acenou para o garoto. Ele ficara conhecido daquela maneira porque tivera a mania de gritar a quem quer que fosse o que desejava.
Atingiu o parque a uma velocidade considerável, o suor a pingar dos cabelos asa-de-corvo escorridos. A camiseta colada ao peito que subia e descia descompassado.
Quatro voltas ao imenso lago eram o bastante. O céu estava tão lindo! Observava enquanto corria. As nuvens poucas eram cinzentas e o restante só azul... Imenso! Dava mais vontade ao garoto para voar.
Foi na segunda volta que aconteceu. O garoto corria a olhar para o céu, sem se dar conta da centena de patos a sua frente. Todos os patos olhavam para ele sem entender que seriam atropelados. E o garoto a chegar perto...
As patas iniciaram uma azáfama ao perceber o que aconteceria e os patos abriram as asas para protegê-las.
Foi tudo bem rápido. O garoto sentiu as pernas roçarem em penas de patos. Sentiu ainda bicadas nas nádegas. A dor não foi o bastante para que ele parasse. Abriu os braços e correu mais!
As pessoas pararam para ver aquela cena belíssima – o garoto com os braços abertos a correr da centena de patos com asas abertas. Correram naquele cortejo até que os patos o atingiram e juntos ergueram vôo.
Voaram longe, sumiram de vista. E a cidade ficou sem os patos e o garoto. Mas ele conseguiu o que queria, avistou ao longe a sua tia; sentada a comer um pedaço de nuvem.
L.J. Becker

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