quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Triste percepção da surrealidade

Eu não fazia a menor idéia do tipo de problema no qual estava me envolvendo.
Para começar, o lugar cheirava a mofo. Havia poças de água da chuva do dia anterior nos buracos do chão de concreto envelhecido. A lâmpada não auxiliava na iluminação, mas as aranhas insistiam em aparecer. Para não falar da bagunça! Uma pilha instável de panelas velhas, engradados de garrafas vazias e outras coisas inúteis.
Era um deposito sujo e mal organizado. Mas eu estava ali para pensar em como torná-lo habitável aos mantimentos. Outros pensamentos viriam à tona. Ria-me de mim mesmo ao acreditar que conseguiria limpar aquilo. Então divaguei por uns momentos. Imaginei-me traçando uma reta com caneta de nanquim num suave papel cartão.
“papel cartão não é suave, meu caro!”, eu digo para eu mesmo.
“Eu sei, mas isso é apenas uma divagação”
Revirei uma panela e fiquei surpreso com um pequeno conjunto de castiçais. Não era para menos que o lugar tinha 124 anos! Dei nova gargalhada. Fui acompanhado de outra risada vinda do deposito ao lado. Tratava-se de um lugar idêntico aquele em que eu estava, com uma lâmpada fosca, mas vazio. Eu espiei para lá e, qual não foi meu espanto. Estava você! Seus olhos eram bastante vermelhos, sombrios.
“Assustadores?”
Dei um pulo para trás a menção da sua voz.
“Não se assuste. Apenas abra a grade para que eu saia.”
Era apenas um pedido. Refleti por um momento sobre a prudência de abrir a grade para você vir para o meu lado do deposito. Afinal, eu não sabia QUEM era você. Ou O QUE era você... E você, o que faria?
Eu abri a grade, mas não houve final algum. Apenas panelas sujas e engradados de garrafas vazias. Ah! Lembro-me de ter pisado com força numa poça e de ter molhado minhas calças.

Um comentário:

garota_cigana disse...

adoreii esse conto, mas quero continuacao! haha, acabei de descobrir teu blog, como pode neh?
=p